Pages

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Nicodemos e o nascer de novo


Como pode um mestre não entender uma simples metáfora? Ao analisar de forma um pouco mais detalhada esse episódio, será possível responder à pergunta.

Nicodemos, provavelmente para não ser visto, encontrou-se com Jesus à noite. Aquele que era um dos principais dos judeus se mostra reconhecer a procedência de Jesus. “Sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus” (Jo 3.2).

Cristo parece quebrar o assunto de Nicodemos e afirma que “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3). O Senhor Jesus estava usando algo deste mundo material, o nascer, para comparar o que se acontece com aquele que se entrega à autoridade do Supremo Pastor.

Mas, naquele momento, toda a erudição daquele mestre mostrou-se inútil. O que se vê é alguém que estudou com os maiores professores, tendo acesso à literatura prima da época, não entender uma simples metáfora que não era uma grande abstração, mas uma simples espécie de comparação.

Os livros não serviram a Nicodemos. O de que ele precisava eram óculos espirituais para perceber a profundidade do nascer de novo. Mas como não os tinha naquele momento, o mestre dos judeus devaneou com uma pergunta de quem não havia entendido tão simples declaração: “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?” (Jo 3.4) E Cristo, assim, dá uma pista do paralelo que quer apresentar ao dizer: “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.” (Jo 3.5)

Jesus, então, faz outra mera metáfora sobre o vento, e Nicodemos não entende que o Espírito sopra onde quer assim como o vento o faz. Com isso, Cristo faz uma pergunta dura e precisa. “Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?” (Jo 3.10)

Onde estava todo o conhecimento daquele estudioso ao não entender duas simples metáforas do Senhor Jesus? O próprio Cristo fala que, tratando de coisas terrenas, isto é, usando figuras de experiências humanas, aquele homem instruído não pôde entender o que lhe era dito. Como iria, então, crer quando Jesus lhe falasse das coisas puramente espirituais? (Jo 3.12)

Num mesmo diálogo, as mesmas palavras, porém sentidos completamente diferentes para cada um. É assim que se vê o episódio de Nicodemos. Para Cristo, com a visão do lado espiritual, nascer de novo nada mais era que o regenerar-se para uma nova vida para Deus. Mas a Nicodemos parecia estar velado o sentido tão simples de um mero recurso de linguagem.

Títulos, reconhecimento humano, aplausos, nada disso tem importância quando se vai tratar com Deus, diante de Quem a sabedoria deste mundo é loucura (1 Co 3.19). Para se entender a Cristo, precisa-se muito mais do que a mera inteligência humana. É necessário um abrir de olhos, um nascer de novo, para que, através da nova vida e da nova visão, possa-se ter acesso a um campo antes não conhecido da realidade, a esfera espiritual.

Em Cristo,

Felipe Prestes

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Provérbios 22:17-19

memorizar 

17 Inclina o ouvido, e ouve as palavras dos sábios, e aplica o coração ao meu conhecimento. 18 Porque é coisa agradável os guardares no teu coração e os aplicares todos aos teus lábios.19 Para que a tua confiança esteja no SENHOR, quero dar-te hoje a instrução, a ti mesmo. Provérbios 22:17-19

Tive o enorme privilégio de crescer em um lar cristão. Uma das vantagens que tornam isso um privilégio é aprender a memorizar as Escrituras.

Minha mãe sempre ensinou algo muito importante para nossa família. Ela dizia que o livro de Provérbios tem o mesmo número de dias que um mês, assim, seria uma ótima prática ler um capítulo desse livro por dia. No decorrer dos anos, estaríamos com centenas de provérbios memorizados.

De fato isso acontece. Recordo-me uma quantidade de vezes em que ela falava algum provérbio em diversas situações. Em brigas, em tristezas, em alegrias, diante de desafios, em meio a algum problema, ela sempre tinha um provérbio pronto e memorizado, especialmente apropriado à situação.

Esses três provérbios atestam o que minha mãe tão sabiamente ensinou: há um grande benefício em valorizar o aprendizado das palavras do sábio. Isso é facilmente percebido, pois o sábio primeiro ordena, depois mostra o benefício e por fim elucida o propósito da memorização dos provérbios.

A expressão “inclina o ouvido” era comumente usada para o ato de dar atenção, tanto da parte do homem às palavras de Deus, quanto da parte de Deus atentando às orações de seus filhos. É uma ordem para que se “preste toda atenção”.

Porém a ordem de concentrar-se é seguida da ordem de abrir-se às palavras do sábio. É semelhante a um aluno que tem a disposição de aprender (inclina) e de fato retém o que é ensinado.

A Nova Tradução na Linguagem de Hoje traduz bem essa primeira ordem como “Presta toda a atenção”, pois o sábio sabe da grande importância do que será dito, por isso conclama a uma total concentração e retenção de todo o seu ensino.

A segunda recomendação de Salomão envolve a disposição do “homem interior”, tradução literal do termo para “coração”. Esse termo varia entre as traduções para mente, coração e até pensamento. Contudo, a ordem é para que se esteja completamente disposto a aprender.

Toda essa disposição deve ser destinada “às palavras do sábio” e “ao meu conhecimento”. Estas expressões remetem ao ensino de Salomão e de todos os sábios, mas especifica-se no ensino do primeiro.

Enfim, o sábio aqui aconselha que se dê total atenção ao aprendizado do seu conhecimento. Tanto que se haja uma inclinação ao aprendizado, como uma disposição interior.

Nós damos atenção àquilo que nos interessa. Assim como paramos para ouvir uma notícia importante na TV, um comunicado importante de nosso trabalho ou algo que alguém amado nos quer dizer, Salomão mostra quão importante e benéfico é que se memorize e a sua sabedoria.

A expressão “guardardes em teu coração” pode ser traduzido também como interiorizar, ou também memorizar. Aqui é atestado o conselho materno que recebi: a memorização do ensino da sabedoria nos é altamente proveitoso.

Também é benéfico o “aplicares todos aos teus lábios” ou, coloquialmente, “tê-las na ponta da língua”. De fato, falamos aquilo que o nosso coração está cheio, como ensinou o Senhor Jesus. Se tivermos os provérbios memorizados, guardados em nossos corações, seremos como um arqueiro, que sempre tem flechas disponíveis quando precisar atirá-las.

Além disso, Salomão ensina que o memorizar e o guardar seus provérbios é “agradável”. Também poderia ser dito “encantador”. Os provérbios, quando guardados em nossas mentes, e prontos em nossos lábios, serão de grande agrado. Ficaremos encantados quando percebermos que temos ótimos e sábios conselhos para as mais diversas situações da vida. Como é bom quando, ao passar por uma dificuldade, temos um bom ensino para nos orientar e evitar que cometamos falhas!

Esse tríplice provérbio conclui afirmando o objetivo de se ter a sabedoria. Salomão oferece mais uma vez o seu conhecimento “dando a instrução”, ou “fazendo saber”. O ensino da sabedoria é oferecido não para que se tenha uma auto-confiança, não para que haja um ensoberbecimento. A sabedoria deve nos levar a confiar no Senhor.

Ao contrário da sabedoria do mundo que leva a auto-exaltação e ao auto-engrandecimento, a sabedoria dos provérbios é sabedoria que vem de Deus. Vindo de Deus nos leva a confiar nEle. Deus nos orienta em cada situação da vida através da sua Palavra proferida pelo sábio Salomão.

De fato, é muito pertinente o conselho que recebi de minha mãe, que na verdade é um conselho vindo de Salomão. Memorizar os provérbios trará enorme benefícios, benefícios agradáveis, encantadores. Mas, para memorizá-los, precisamos estar abertos a escutá-los, através da leitura constante, talvez um capítulo por dia. Isso feito, a nossa confiança no Deus que é a fonte de toda sabedoria irá aumentar diariamente.

“Im omnibus glorifecetur Deus”

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A purificação do templo com lentes espirituais


Nesse tão conhecido episódio, pode-se ver o Senhor Jesus tomando uma atitude, no mínimo, curiosa. Se houvesse hoje uma situação semelhante, certamente haveria más interpretações sobre o fato. Diante de tal complicação, entender a visão espiritual de Cristo faz-se a chave para abrir as portas de um entendimento real do que ocorreu naquele dia no templo.

O templo sempre foi algo sagrado para os judeus. O próprio Deus ordenou sua construção, dando todos os detalhes de como Ele queria que fosse edificada a casa em que o Seu povo O adoraria. Foram instruídas por Deus desde a dimensão das portas até a forma como os sacerdotes deveriam se vestir para entrar em certos ambientes.Tanto detalhamento mostra a importância que Deus dava àquele lugar. Não pelo prédio ou pela liturgia por si só, mas pelo fim de tudo aquilo, a Sua própria glória.

Ao ver o templo de Deus, Jesus esperava que aquele lugar fosse reverenciado e honrado, assim como importava ao Pai. Porém, Cristo “encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados” (Jo 2.14).

Aos olhos puramente humanos, aquela era uma situação simplesmente comum. Homens comerciando para obter lucro dos produtos que vendiam. Os sacrifícios deveriam ser tirados da propriedade de quem os ofertava, mas os comerciantes facilitavam esse trabalho. Vendiam o “sacrifício” no próprio templo, tornando a vida daqueles religiosos mais fácil, mais prática. Um comércio de fé. Algo bem semelhante ao que se vê atualmente nos meios de comunicação com a comercialização do crer.

Por outro lado, isto é, por outro foco, o que se fazia no templo com comércio era uma afronta direta ao Senhor que o mandou construir. Ir ao templo deveria ser uma tarefa religiosa e, portanto, litúrgica, sim. No entanto, deveria ser uma religiosidade sincera, pois é a isso que o próprio Cristo valoriza, pois aquele fariseu da parábola não foi escutado, mesmo sendo seguidor dos costumes de sua religião, mas, ao publicano, Deus escutou por reconhecer pura e simplesmente que era pecador e que precisava de perdão, nem tendo coragem suficiente para levantar os olhos e olhar para os céus.

Cristo viu uma banalização de algo extremamente valioso para Deus. O resultado foi uma profunda indignação diante de tamanho desrespeito a Deus Pai. Como providência, Jesus tomou chicotes e “expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas”. (Jo 2.16)

O Mestre mostrou profundo zelo e cuidado pelo que tinha valor diante do Pai, mostrando Sua total identificação e intimidade com a Primeira Pessoa da Trindade. A prova disso é o Seu discurso. “Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio.” (Jo 2.16)

O foco espiritual de Cristo se mantém. Depois de os judeus perguntarem de onde Ele tirava autoridade para tomar aquelas atitudes tão imponentes, o Senhor responde: “destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei” (Jo 2.19). Jesus falava de si próprio. O santuário era Ele mesmo que seria “destruído”, mas seria “reconstruído” no terceiro dia.

Como cegos espirituais, aqueles judeus não entenderam e pensaram que Cristo falava do santuário físico, que havia demorado quarenta e seis anos para ficar pronto.

Uma visão errada leva a uma prática errada. Os comerciantes bem como os consumidores do templo não conseguiam enxergar a afronta que estavam cometendo a Deus. O respeito que o templo demandava havia perdido o sentido para aqueles que queriam lucrar pura e simplesmente e, assim, perderam seus escrúpulos. Deve-se, portanto, saber, através da Palavra, o que é importante para Deus e, assim, ser zeloso com o que Ele zela.

Em Cristo,

Felipe Prestes

terça-feira, 28 de julho de 2009

A Espera e o Alívio.

paciencia

Ninguém gosta de esperar. Fila de banco é um terror para todo mundo. A espera da noiva no dia do casamento é angustiante. Esperar o término de uma aula chata quase nos mata de angústia.

Porém, há esperas que além de angustiosas são dolorosas. A espera pelo nascimento em meio a dores de parto. A espera por um transplante para curar uma doença terminal. Até mesmo a cômica e trágica espera por um banheiro em meio a uma forte dor de barriga.

Esperar já é ruim, esperar com dores é ainda pior. Todo aquele que é cristão e conduz sua vida pela Palavra está destinado a esperar. A espera faz parte da vida do crente até o último momento de sua vida aqui na terra. Mas o cristão não espera somente, mas espera com dores.

Existe algo, porém, que faz da espera com dores algo suportável e até animador: o alívio. A mãe que espera seu filho se enche de gozo ao pegá-lo em seus braços, e que alívio! O doente que recebe seu órgão e vive mais 50 anos vive 50 anos de alívio. O alívio faz da espera com dor valer à pena.

O Senhor Jesus quando veio disse que um dia voltaria. Ele deu uma ordem, mas também deu vários avisos de que a vida aqui até que Ele voltasse não seria tão fácil. Ele disse que seus discípulos deveriam esperar a sua volta, e que essa espera seria um tanto quanto dolorosa. Por isso o seu retorno é tão esperado, tão ansiado, tão desejado, pois ele será o nosso alívio, o nosso eterno alívio.

O apóstolo Paulo foi talvez o cristão que mais sentiu a dor da espera com dores, mas quem mais olhou para o prazer do alívio. Ele disse:

“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” 2 Cor. 4:17; também afirmou

“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.” 1 Cor. 15:58.

Observem o seu esforço em animar aos seus irmãos em Cristo para que agüentem a espera, ela é dolorosa, ela é ruim, mas ela vale muito a pena. Vale porque cada minuto de dor na espera gera eterna glória futura. Vale também porque ela não é em vão, receberemos um corpo novo, sem doença, sem tentação, sem dor...

Observem também como esse apóstolo considera o momento do alívio:

“aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” Tito 2:13

Enfim, esperar por Cristo em um mundo como o nosso não é fácil. Somos tentados diariamente, e muitas vezes caímos e sentimos a dor profunda da queda. Pessoas a quem amamos contraem doenças devastadoras como o câncer. Parentes que muito apreciamos estão cegos, caminhando para a perdição, e esperamos angustiosamente se eles vão ou não ser salvos. Cada pessoa poderia citar uma quantidade de coisas que a entristece, a desanima e a faz infeliz em sua caminhada e espera pela volta de Cristo. Como somos tentados a desistir!!!

Algo, todavia é muito animador. Quanto maior a espera, maior o alívio. Quanto mais esperamos e sofremos por Cristo, mais o encontro com Ele será precioso. Cada momento de dor agora será substituído por momentos de gozo e regozijo ao lado d’Aquele que a todos satisfaz plenamente. Vai ser muito bom estar diante do nosso amado Senhor e ver os seus dedos cumprirem o que foi escrito:

“E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” Ap. 21:4

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Quem pode reter tanta água?



Como o abrir-se da represa, assim é o começo da contenda; desiste, pois, antes que haja rixas. (Pv 17.14)

Algumas postagens atrás, falei que tenho um sério problema com máximas populares, que geralmente mostram uma falta de sabedoria no lugar de uma verdadeira instrução. Porém, hoje lembrei de um dito do qual realmente podemos aprender. Creio que todos já escutaram alguém dizer: “Quando um não quer, dois não brigam.”

As brigas são originadas exatamente de alguém que não quer ceder, não quer abrir mão do seu “orgulho ferido” e, por isso, revida a afronta para não “ficar por baixo”. Nada mais carnal. Nada mais pecaminoso. Nada mais distante do que o Senhor espera de um filho dEle.

Deveríamos aprender com o livro de provérbios. Depois que uma represa se abre, é muita água que sai dos seus depósitos. Fico imaginando alguém tentando reter aquela enorme quantidade de água. Seria facilmente engolido.

A força de uma contenda é muito grande. Depois que uma briga começa, depois que os egos se inflam, o que se pode fazer é esperar os estragos, como os destroços que ficam em uma cidade atingida por uma enchente.

Então, já que somos fracos mesmo, já que temos tanta dificuldade em ceder, deveríamos usar a nossa capacidade de reconhecer quando uma briga começa para, no lugar de nos colocarmos na defensiva, preparados para um ataque, tentarmos acabar com a discussão naquele momento. Os embates resolvidos em paz são aqueles que levam a um maior desenvolvimento dos relacionamentos. Os que são “resolvidos” em rixas, na verdade, não são resolvidos.

Em Cristo,

Felipe Prestes

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Quem quiser vir após mim...


Senhor, está tão pesada... Por favor, corte um pouquinho...Senhor, por favor, corte um pouqinho mais... Eu serei capaz de carregá-la melhor...
Senhor, muito obrigado... Vamos usá-la como ponte e atravessar...

Fonte: http://daveandvickyemmerson.blogspot.com/2009/02/take-up-your-cross-mark-834-35.html

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Tomar ou fugir?










“pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (At 9.16)

O homem busca o prazer acima de tudo. Alguém já disse isso. Se não dessa forma exatamente, mas algo no mesmo sentido. Freud, o pai da psicanálise, tinha esse princípio nos seus estudos. Todas as ações do homem são em busca de prazer. Até os sonhos, segundo essa teoria, são expressões de prazeres reprimidos.

Longe de mim concordar com Freud em tudo. Mas, nesse ponto (diga-se nesse ponto), ele parecia estar certo. Vemos expressões que revelam a vontade do homem pelo prazer. “O importante é ser feliz, não importa como.”; “Viva o lado bom da vida”. Essas e outras frases mostram que lutamos por um “sentir-se bem” sempre.

As indústrias, as empresas, a mídia, tudo trabalha em função do hedonismo, isto é, da nossa busca pelo prazer. A questão é que muitos têm tentado levar essa cultura para a vida cristã. O evangelho do “estar bem consigo mesmo e com sua própria espiritualidade” tem invadido as igrejas.

As pessoas fogem do sofrimento como se ele sempre significasse algo ruim. Acham logo que foi algum pecado que cometeram e que estão sofrendo a disciplina pelo erro em que incorreram. Às vezes, há uma capa de espiritualidade, quando dizem que a tribulação é para crescimento, mas será que dentro de nós, realmente, nos submetemos, no total sentido do termo, ao sofrimento que Deus nos quer impor?

Os mártires escreveram com sangue seus testemunhos. Nas prisões que Paulo sofreu, foram produzidas cartas inspiradas que lemos até hoje. Os gritos de dor dos perseguidos pela fé ecoam a perseverança de uma vida completamente entregue a Cristo. E o próprio Senhor Jesus padeceu por sofrimentos sem par, uma agonia que resultou na salvação daqueles que cressem nEle.

“O quanto importa sofrer pelo meu nome”, Cristo disse. Nosso Mestre dá uma importância tremenda ao padecer pela Sua causa. Ele se dispôs e sabe o que é sofrer pelos homens. Será que nos dispomos? Será que sabemos o que é sofrer por Ele? A palavra é tomar, e não fugir da cruz dia após dia.

Em Cristo,

Felipe Prestes

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Piloto automático espiritual


“Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos.” (Hb 2.1)

Uma vez ouvi de alguém que um método para potencializar a capacidade dos funcionários de uma empresa era fazendo com que eles sempre mudassem de cargo. É fato que, depois de fazermos a mesma operação por diversas vezes, tendemos a nos acomodar. Ligamos o “piloto automático” e agimos sem pensar. Daí seguem alguns erros que podem ocorrer pela falta de atenção. Quando, porém, uma operação é nova para nós, pensamos detidamente em cada detalhe para nos certificarmos de que não haja nenhum erro no procedimento.

Creio que isso pode facilmente acontecer na vida cristã. Podemos chegar a um ponto em que ir à igreja passa a ser um mero hábito, somente mais uma obrigação da nossa rotina da semana. As leituras de passagens tão lindas, com verdades tão estonteantes, podem se tornar só mais um versículo ao qual já nos habituamos a escutar. E os cânticos riquíssimos em doutrina, com belas palavras de contemplação ao Senhor, podem virar apenas mais uma música que os nossos ouvidos conhecem, os nossos lábios até cantam, mas que, ao fim do louvor, nem lembramos o que cantamos.

Devemos ter em mente que, quanto mais conhecimento, mais responsabilidade. A quem muito é dado muito será cobrado. Do que já ouvimos reiteradas vezes, para alguns desde criança, prestaremos conta não só no dia do julgamento, mas todos os dias em que nos deparamos com situações em que as verdades que sabemos devem ser colocadas em prática. Nesses momentos, o Senhor está olhando para ver se estamos aplicando o que aprendemos.

Se o nosso relacionamento com as verdades que sabemos for de um mero conhecimento de informações, dificilmente agiremos segundo a Palavra de Deus. Contudo, se não só soubermos, mas respirarmos, comermos e bebermos as Escrituras, se andarmos nos preceitos eternos da Revelação e se o nosso coração bater segundo a Bíblia; somente assim não nos desviaremos do caminho que agrada a Cristo. Só assim estaremos nos apegando “com mais firmeza às verdades ouvidas”.

Cuidado com a força do hábito.

Em Cristo,

Felipe Prestes

sábado, 18 de julho de 2009

Arreda!

“Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens.” (Mt 16.23)

Talvez essa tenha sido uma das maiores repreensões que os evangelhos registraram. Sim, Cristo chamou alguns de seus opositores de raça de víboras, sepulcros caiados, entre outros títulos nada invejáveis. No entanto, essa repreensão não foi a um opositor do Mestre, mas a um discípulo.

O que nos parece uma grande ironia se mostra, na verdade, uma grande lição de que ninguém, nem mesmo um apóstolo, está imune à influência do maligno. Mas, no momento, não é o meu objetivo mostrar quem foi influenciado, mas a forma que o inimigo usou para orientar (ou desorientar) Pedro para que aquele que negou a Cristo três vezes fizesse a vontade do deus deste século.

No contexto da situação, Jesus havia predito os acontecimentos que culminariam na sua morte e ressurreição. Logo após isso, Pedro faz o infeliz comentário: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá.” (Mt 16.22) Aos olhos estritamente humanos, Pedro parece fazer o bem, tendo pena do seu Mestre, não lhe desejando nenhum mal, diga-se, aos olhos humanos.

No entanto, não desejar aquele “mal” a Jesus, isto é, não haver Sua morte e ressurreição significaria pura e simplesmente não haver nem salvação, nem vida eterna para os crentes. Significaria o Filho não cumprir a missão ordenada pelo Pai.

O diabo, para cumprir sua maligna vontade, usou de um objetivo “lícito”, ou seja, a pena que Pedro sentiu de Jesus. Portanto, devemos ter cuidado com os nossos sentimentos. Se eles não estiverem afinados com a vontade de Deus, poderemos estar sendo influenciados pela vontade do maligno.

Em Cristo,

Felipe Prestes

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Duras palavras

“Quando você está esquecido de Deus e da vida por vir, e esquece tanto dos seus pecados como do sangue do Salvador, vindo a colocar os seus pensamentos quase que continuamente nas vaidades e nas coisas deste mundo, como se estivesse crescendo mais nestas coisas do que na sua necessidade de Cristo, então, essa é uma demonstração de que Deus precisa fazer com que você se alimente de um cardápio mais duro, para corrigir o seu apetite e fazê-lo sentir o seu pecado e miséria de forma tal, que venha a retirar os pensamentos que você tem nas coisas pouco importantes, e o ensine a preocupar-se mais como o seu estado eterno."
Richard Baxter*

Estas duras palavras do pregador puritano chega a nós como álcool nas feridas da nossa alma. Precisamos de homens que escrevam e que falem das verdades bíblicas dessa forma. Confrontando-nos e nos fazendo deparar com a fraqueza e pequenez do nosso ser para que nos lembremos da total dependência que temos de Deus.

Em Cristo,

Felipe Prestes

*Fonte da citação:
BAXTER, Richard. Quebrantamento – espírito de humilhação Tradução: Paulo Anglada. Knox Publicações, 2008.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Os estágios da adoração (parte 2)

desanimo

 

A algum tempo publiquei um post que iniciava uma análise sobre a adoração na igreja. Afirmei que a adoração ideal é aquela que imita, ou busca imitar a adoração celestial baseado no texto em Apocalipse 4 e 5. Você pode conferir no link abaixo.

http://lentesespirituais.blogspot.com/2009/04/os-estagios-da-adoracao-parte-1.html

Afirmei que a adoração celestial começa pela contemplação. Agora quero descrever o segundo estágio da adoração.

I. A adoração passa pela contrição

A. O que é contrição?

1. Alguém contrito é alguém arrependido, triste. A contrição acontece quando contemplamos a Glória de Deus, e olhamos para nós mesmo, reconhecendo a nossa indignidade, a nossa inferioridade.

2. A contrição é um resultado lógico da contemplação. É impossível contemplar a glória de Deus e não reconhecer o nosso estado indigno perante Ele.

3. O texto nos mostra como os próprios seres celestiais, após contemplarem a Deus e ao Cordeiro, se colocaram em posição de contrição.

B. Eles demonstraram contrição assumindo:

1. Posição de adorador. (4:8)

a. A maioria dos intérpretes defende que esses seres representam a totalidade da criação. Os quatro tipos de cabeças simbolizam os animais domésticos, os selváticos, o homem e os animais voadores. Assim, esse texto sugere que esses seres adoram como representantes de toda a criação.

b. Também notamos o modo da adoração, era uma adoração incessante, “sem descanso”.

c. Isso nos mostra que diante do Trono toda a criação deve se colocar na posição de adorador. Toda a criação deve se render ao Criador.

d. Isso é contrição. É contemplar ao Criador, e reconhecer que somos mera criação, criados com o propósito de adorar.

2. Posição de devedores. (4:9,10)

a. Já foi visto que não podemos definir com precisão quem são esses 24 anciãos, porém suas coroas demonstram que eles haviam sido premiados e honrados.

b. Mas ao contemplar o Deus que é único merecedor de toda honra, ao perceber que somente o que está assentado no Trono é digno de Glória, esses anciãos simplesmente devolvem as suas coroas. Eles devolvem suas coroas porque estão contritos diante do Todo Poderoso. Eles reconhecem que não são merecedores da coroa, mas devedores, e depositam suas coroas diante do Trono.

3. Posição de pecadores.

a. Na adoração celestial não há pecado. Mas temos alguns exemplos de grandes homens na Bíblia que após contemplar a Glória divina, caíram no chão por seu estado de pecador.

b. Em Exodo 34.8,9 quando Moisés contemplou a Glória de Deus ele lançou-se na terra e disse “Perdoa a nossa iniqüidade”.

c. Em Isaías 6.5 quando Isaías contemplou a Glória de Deus ele disse: “Ai de mim, estou perdido, porque sou homem de lábios impuros”.

d. Em Ezequiel 1.28, após contemplar a glória de Deus o que Ezequiel fez? Ele caiu com o rosto em terra.

e. Em Lucas 5:8, após contemplar a Glória de Cristo fazendo aquela pesca maravilhosa, o que Pedro fez? Prostrou-se e disse “Retira-te de mim, pois sou pecador”.

f. Estar contrito diante de Deus é reconhecer nossa posição de adoradores, devedores e pecadores perdidos diante de Deus. Ao contemplarmos a Glória de Deus somos possuídos de temor, de medo da justiça divina, pois somos devedores de Deus.

g. De acordo com Isaías 57.15 alguém contrito é alguém com o espírito abatido. O Salmo 51.17 mostra que o contrito tem o coração quebrantado.

h. A contrição nos deixa tristes, leva-nos a chorar como João por causa da nossa indignidade.

C. Aplicações.

1. Há uma música muito conhecida que diz “Vem, assim como estás para adorar. Vem, assim como estás, diante do Pai”. Esse trecho é completamente antibíblico e demonstra um total desconhecimento de quem é Deus. É impossível chegar diante do Pai “assim como estás” e continuar como está. Como vimos, a adoração começa com a contemplação, e passa pela contrição. Assim, antes de adorar precisamos avaliar nosso estado de perdidos, que somos indignos de chegar diante do Pai.

2. Também já assisti a alguns DVDs de shows de artistas evangélicos de Rock e de Rap em que, em seus shows, dizem que estão diante de Deus, adorando-O. E vemos um comportamento irreverente, descontrolado, desordenado, imoral e mundano. Alguém contrito jamais será irreverente, jamais adorará a Deus de forma mundana. Pois se está contrito é porque já contemplou a Deus e o reconhece como digno de honra, reverência, respeito e temor. Jamais alguém que contempla com seriedade a Deus não ficará contrito. E jamais alguém contrito será irreverente diante do Pai.

Continua...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Psicologizando Deus

"Ó profundidade de riqueza, tanto de sabedoria como de conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!" (Rm 12.33)

O ser humano sempre foi curioso. Na verdade, o primeiro pecado da humanidade ocorreu pela vontade de saber demais. O primeiro casal queria saber, queria entender, queria sentir o gosto do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Eles não precisavam saber. E não podiam saber. Mas a vontade de saber foi maior, e eles caíram.

Esse foi só o primeiro dos muitos erros da humanidade movidos pela vontade de conhecer mais do que nos cabe. É uma falha na qual insistimos em cair até hoje. E um exemplo claro dele é quando queremos entender a mente de Deus.

Quando uma grande tragédia ocorre, por exemplo, começamos a criar especulações sobre a justiça de Deus. Quando uma benção acontece na vida de alguém, conjeturamos o porquê de o Senhor ter feito aquilo. Quando entramos em momentos de dificuldade, logo nos apressamos em procurar qual foi o pecado que cometemos para que tal tribulação nos ocorresse.

O perigoso disso é que temos uma séria mania de exercer juízo de valor a tudo que analisamos. Temos sempre uma palavra na ponta da língua. Certo ou errado, bonito ou feio, justo ou injusto etc. Naturalmente, ao analisarmos seja lá o que for, usaremos os nossos parâmetros para julgar o que foi analisado.

Porém, nossos parâmetros são humanos, criados por mentes caídas, pecadoras, finitas e imperfeitas. Assim, seja lá o que julgarmos, saindo desses parâmetros humanos, chegaremos a juízos passíveis de erros, assim como nós.

Portanto, quanto às ações de Deus, não nos cabe julgá-las, e sim nos submetermos a elas. Os juízos de Deus são insondáveis e os seus caminhos, inescrutáveis, é o que Paulo nos diz. Portanto, não tentemos “psicoligizar” o Deus onisciente, detentor de toda a sabedoria e de todo o conhecimento.

Em Cristo,

Felipe Prestes

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Quando sentimos o céu…

Libera - Sanctus

Minha esposa sempre dizia que uma das coisas boas da festa de casamento é esperar por ela. Lembro-me muito bem como era bom cada vez que sentíamos a sensação de que estava chegando a hora do casamento. O momento do noivado, o chá de panela, a escolha do vestido de noiva e etc. E o interessante é que, além de nos encher de ânimo e alegria, esses momentos nos aproximavam, reascendendo nossa paixão.

Penso que essa é uma perfeita ilustração da festa que será no céu, e a música é uma das coisas que nos faz já sentir um pouco do prazer que será diante de Cordeiro. Ao assistir esse vídeo eu poderia me encher de admiração por esses garotos, ou emocionar-me pela beleza da música; porém, mais do que tudo isso, eu me encho de ansiedade por estar na glória celestial, de cantar louvores em uma só voz com os anjos ao Cordeiro que é Digno.

Muitas coisas aqui nesta vida nos fazem sentir um pouquinho do céu, como a oração e a comunhão com os irmãos. Porém, louvar a Deus através da música é, talvez, a que mais nos remete à glória celestial. Isso é fácil de ser percebido, pois o céu é repleto de música. É freqüente nas Escrituras os anjos serem descritos como louvando sem parar. Os capítulos 4 e 5 de Apocalipse mostram que toda a “população” celestial se volta para o Trono para adorar, e adorar “dia e noite, sem cessar”.

Sendo assim, cada vez que nos reunimos para entoar cânticos a Deus em nossas igrejas, já podemos sentir uma parcela daquele gozo, uma ponta daquele prazer indizível que será cantar Ao que vive pelos séculos dos séculos. Cada vez que vemos músicas como essa do vídeo acima, precisamos fechar os olhos e nos imaginar cantando lindos louvores, perfeita música, ao Senhor Deus, Todo-Poderoso.

Contudo, como foi dito, os preparativos para a festa também me aproximavam mais de minha noiva. Da mesma forma, sentir o prazer celestial hoje não pode me dar paixão pelo céu em si, mas por Aquele que faz o céu ser tão prazeroso, Aquele que faz o céu ser glorioso, Aquele que faz do céu algo tão digno de ser esperado. A música nos apaixona por Deus, faz nosso coração tremer de alegria por esse Deus que é tão cheio de glória, tão Majestoso, tão Poderoso e ao mesmo tempo preocupado com seres tão pequenos e indignos.

“Obrigado Senhor por nos dar o privilégio de cantar e ouvir músicas que nos fazem desejar estar diante do teu Trono. Obrigado porque o Senhor gosta de música e nos deu o prazer de desfrutar e Te oferecer o que Te agrada. Obrigado pela certeza de que um dia estaremos contigo, entoando um louvor perfeito e sentindo um prazer eterno em Ti. Em nome de Jesus Cristo...”

“Im omnibus glorifecetur Deus”

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Deus ou o homem?


A vida é cheia de impasses. Estamos sempre tomando decisões. E, naturalmente, para cada decisão tomada, uma alternativa foi descartada. Escolhemos entre um caminho ou outro, uma roupa ou outra, um sapato ou outro. Alguns não têm problemas em escolher e tomam decisões rapidamente. Chamamos a esses de seguros de si. Aos outros, que hesitam entre uma opção ou outra, chamamos de inseguros.

Algo interessante sobre nossas escolhas é que elas revelam muito da nossa personalidade. Quando conhecemos alguém mais a fundo, podemos até prever quais serão suas decisões. Sabemos os seus gostos, os seus interesses e suas preferências. Quanto mais conhecimento, mais poderemos prever o que alguém vai escolher.

De todas as opções que são colocadas diante de nós, há uma que permeia (ou deveria permear) todas elas. A opção é: obedecer ou desobedecer a Deus?

Se fizéssemos uma análise, mesmo que breve, sobre Quem é o Senhor, creio que nem entraríamos em dúvida sobre obedecê-Lo ou não. Deus, o Senhor criador de tudo e de todos, Dono de terra e céu, Sustentador do Universo, Soberano, Fiel, Justo, Verdadeiro, Santo, Misericordioso, Gracioso, Amável, Perfeito, Grandioso, Glorioso, Infinito, Eterno, Pai.

O impressionante é que, por diversas vezes, sabemos Quem é Esse a Quem devemos obediência, conhecemos Seus atributos, mas tomamos a infeliz decisão de desobedecê-Lo. Pior ainda. Decidimos obedecer a esse mundo, seguir as expectativas deste século, submetendo-nos às regras de um sistema criado por homens caídos, meras criaturas que só vivem porque Deus é misericordioso para não consumi-los imediatamente por conta de seus delitos e pecados.

Quando decidimos obedecer aos homens, e não a Deus, estamos entre duas alternativas: ou consideramos os seres humanos mais importantes do que o Senhor ou esquecemos que Ele existe. As duas opções são terríveis. Que, no momento da escolha entre o homem e Deus, lembremo-nos de quem é cada um e, então, tomemos a decisão correta.

“Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens.” (At 5.29)

Em Cristo,

Felipe Prestes

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Deus que me perdoe...

Há algumas expressões que estão no vocabulário popular que muito me incomodam. São aquelas expressões que revelam uma visão de mundo antibíblica, mas que os que falam, muitas vezes, nem percebem o tamanho da heresia que estão falando. Pode-se perceber isso porque há, inclusive, crentes que usam algumas dessas formas de falar.

Umas delas é essa do título. Já perdi a conta de quantas vezes vi pessoas falarem essa expressão. O interessante dela é que sempre vem acompanhada de algo reprovável.

- Deus que me perdoe, mas (e começam a falar mal de alguém).
- Deus que me perdoe, mas dá vontade de (e começam os atos mais vingativos dos quais já se ouviu falar).
- Deus que me perdoe, mas (e vem um palavrão)

Os exemplos poderiam ser muitos, e certamente não os esgotaríamos. As pessoas gostam de falar isso. Parecem ter uma sensação de quem está se livrando de um erro. Mas o fato é que essa expressão é muito séria. Quando alguém diz algo assim, está primeiramente reconhecendo que o que está fazendo é errado. É tão errado que reconhecem que Deus precisa perdoar. Mas, mesmo sabendo do erro que estão para fazer, cometem-no ainda assim.

Além disso, ao falar “Deus que me perdoe”, a pessoa, mesmo sem saber, está se colocando no mesmo nível de Deus ou até maior que Ele. É como se fosse obrigação de Deus perdoar aquela falta que se está para cometer. Parece uma ordenança ao Senhor do Universo. É algo tão sério que é um reconhecimento do pecado que se está para cometer, além de uma suposta liberdade para fazer o que é errado, pois Deus que perdoe.

Seria mais honesto dizer: “Vou cometer um pecado. Estou avisando. Vou errar agora porque quero. Deus que me perdoe.” Se ouvíssemos alguém falar assim, acharíamos muito estranho. Seria uma banalização tanto do pecado quanto do perdão de Deus. Mas é exatamente o que a expressão significa.

Pecado é algo sério. Tão sério que ele é o motivo pelo qual morremos. Tão sério que o Senhor Jesus veio para morrer por eles para que, um dia, quando nos achegássemos a Ele, recebêssemos o tão sério perdão pelos pecados que cometemos.

Então, da próxima vez que escutarmos um “Deus que me perdoe”, lembremo-nos do que Deus disse no seguinte versículo:

“Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.” (Rm 9.15)

Em Cristo,

Felipe Prestes

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dízimo do tempo



"Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra" (Cl 3.2)

Hoje, depois de ler um livro que falava sobre a importância da meditação nas coisas espirituais, pensei um pouco mais a fundo sobre o tempo que Deus nos dá. Na verdade, de tudo que recebemos de Deus, nós somos despenseiros. Um dia, prestaremos conta de tudo o que Ele nos deu. Lembramos dessa prestação de contas todos os meses quando depositamos o nosso dízimo no gasofilácio da igreja. Naquele momento, estamos claramente devolvendo a Deus uma pequena parcela do tudo que Ele nos tem dado.

Mas pensei também em algo que poderia ser chamado de dízimo do tempo. Fiz o cálculo e vi que 10% das horas do nosso dia é igual a 2 horas e 24 minutos. Levando em conta o princípio básico que é Deus quem nos dá tudo, e que devemos Lhe oferecer as primícias, por que temos tanto problema em dar o nosso tempo a Deus, usando esses momentos pra meditar na Sua Palavra, no Seu Ser e na Sua Obra?

Uma vez falei a um irmão que João Calvino orava cerca de 3 horas por dia. O irmão disse que isso era naquela época em que as pessoas tinham mais tempo. Mas o fato é que o grande reformador escreveu, além das Institutas, uma vasta literatura cristã, pregava pelo menos 4 vezes por semana, além de muitas outras atividades que exercia. Tudo isso sem carro, sem computador e outras tecnologias que nos ajudam a gastar menos tempo.

Não vejo uma diferença de épocas. Vejo uma diferença de disposição. Calvino e outros que fizeram grandes coisas pela Obra do Senhor tinham a mesma característica: investiam muito do seu tempo meditando das coisas do alto. Assim, podiam quase entrar nos bastidores celestes e entender o que Deus queria para suas épocas e, assim, investir o que tinham para cumprir a vontade do Senhor.

Quanto do nosso precioso tempo temos investido naquilo que Deus valoriza? Será que chegaria ao dízimo do tempo de um dia?

Deus nos tem dado. O que temos feito?

Em Cristo,

Felipe Prestes

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A má notícia de uma morte


Peço paciência aos caros leitores desse blog. Quero continuar olhando com uma lente espiritual o fato da morte do artista pop Michael Jackson.
Há alguns dias participei de uma aula de música em que a professora era uma grande musicista brasileira que trabalha e estuda nos EUA. Nessa aula ela tratava da incrível capacidade dada por Deus a algumas pessoas para compor músicas, mesmo sem conhecerem nada sobre partitura, notas, acordes e etc. E ela citou como exemplo o finado artista Michael Jackson. A frase dela foi como “Deus deu àquele homem uma dom incrível!!!”.
Ela não estava dizendo que apreciava esse cantor, nem tampouco dizendo que a música dele glorificava a Deus, mas simplesmente reconhecendo a grande capacidade de criar que ele tinha.
Ao dizer isso eu confesso que me senti humilhado e envergonhado e explico o porquê. Há algo muito presente nas Escrituras que, desde os patriarcas até os cristãos, era bastante vivenciado pelos crentes, a solidariedade da raça. Isso está sendo cada vez mais perdido pela sociedade pós-moderna individualista, relativista e fragmentadora. Mas nos tempos bíblicos, e também nos seus ensinos, os homens eram vistos interligados uns aos outros. Olhe como Moisés em Êxodo 34:9 vê o pecado do povo como sendo pecado dele também. Daniel quando orou também se sentiu assim, envergonhado pelo pecado do povo. Mas eles mesmos não pecaram, porém a consciência de coletividade era marcante naqueles homens.
Ao me deparar com a morte de Michael Jackson e com o fato dele ter sido tão talentoso, eu sinto em mim uma dor por causa dessa consciência solidária, pois se nós não tivéssemos pecado, se nosso representante no jardim não tivesse comido do fruto proibido, que benção Michael Jackson seria, assim como Chico Buarque, Villa Lobos, Mozart e Bethoven. Já pensou todos esses homens usando seus talentos para a glória de Deus? Já pensou tê-los em nossas igrejas compondo hinos e cânticos para a adoração do Senhor Jesus Cristo?
Tenho sentido muita compaixão a cada notícia dada sobre os resultados da morte de Michael Jackson. Mas maior dor me vem por saber que eu tenho uma parcela, mesmo que distante, de culpa pela vida sofrida e final triste desse grande artista. Como ser humano, me dói saber que grandes dons, capacidades magníficas, foram desperdiçadas e usadas em um reino que não os mereciam.
Talvez eu esteja sendo um tanto quanto impactante com isso, tenho medo de ser mal compreendido. Mas quero deixar ao menos uma palavra de alerta. Tenho visto pessoas encarando esse fato de morte com certo desdém, pedantismo e incompaixão. Essas pessoas estão tomadas de frieza e analisam o ocorrido sem nenhum sentimento de dor e tristeza. Tristeza não porque perdemos nosso “ídolo”, mas tristeza porque a morte é resultada da ira de Deus. É certo ser tão frio ao perceber a ira de Deus em ação? Creio que não.
A ultima coisa que me resta para dizer sobre isso é MARANATA. Quando o Senhor Jesus vier nos levar para morar com ele, ali não haverá nota, acorde, voz, poesia que não seja para exclusiva adoração do Glorioso Deus. Que dias gloriosos serão!!!
"Im omnibus glorifecetur Deus"

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ódio mortal


“Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino” (1 Jo 3.15a)

Não sei se há algo que traz mais indignação ao coração de um homem do que uma afronta. Aliás, creio que, se houvesse uma pesquisa sobre a maior causa de assassinatos e outros tipos de crimes violentos, as afrontas figurariam entre os principais pontos de origem de um ato violento de alguém contra outra pessoa.

A afronta dói. Parece perpassar pelos nossos órgãos, mexendo as nossas entranhas. A nossa respiração muda, nosso rosto troca de expressão e a nossa vontade é de aplicar um revide instantâneo que seja igual ou maior à injúria que foi proferida contra nós. Os que não tem controle sobre si mesmos simplesmente se entregam a esse sentimento flamejante de vingança e avançam contra o ofensor, esquecendo-se rapidamente das consequências que poderão surgir do seu contra-ataque. Como disse, talvez essa seja uma das maiores causas dos crimes violentos.

Alguns podem se controlar e simplesmente calar diante de uma injúria direta. Mas o que acontece é que, muitas vezes, aquele insulto parece criar uma bomba de ar que é enchida a cada pensamento vingança que passa pela mente do ofendido. Nesses casos, não se pode agir diretamente contra o ofensor, mas a mente vira um palco das vinganças mais cruéis que o mundo já testemunhou.

Na mente de muitos já deve estar chegando uma palavra, infelizmente, bem presente em nosso vocabulário. Sim, chamamos esse sentimento pós-afronta de ódio. Como disse, alguns manifestam esse sentimento claramente, e outros não. Contudo, se houvesse uma forma de definir os sentimentos no coração dos homens, encontraríamos a mesma coisa no coração de ambos.

O fato é que Deus não vê só o que vemos. Nós, de fato, não conseguimos entrar no coração de ninguém e saber o que cada um está sentindo ou pensando, mas o Deus onisciente sabe e vê absolutamente tudo, inclusive aqueles sentimentos e pensamentos que tentamos esconder de todos.

E Deus considera o ódio como um assassinato. Sentir vontade de fazer mal a alguém é o mesmo que fazer mal a alguém. É assim que Deus trabalha. Para Ele não existem fachadas ou máscaras.

Se alguém acha que recebeu alguma ofensa, deveria se perguntar se a afronta foi maior do que aquelas que Jesus sofreu quando estava por aqui. Ele não revidou a nenhuma delas, e, quando tentaram fazer mal aos que queriam prendê-lo, Ele repreendeu o que quis defendê-lo, dizendo que, se Ele quisesse, poderia receber milhares de anjos em Sua ajuda. Mas não era o caso no momento. Aquela era a hora do sofrimento, das afrontas que Ele tinha que receber para que as Escrituras se cumprissem e para que fôssemos salvos. O Mestre não odiou os que lhe feriam, mas sentiu misericórdia por cada um.

Portanto, aprendamos com o nosso Senhor e lembremo-nos de que não são somente ações que contam para Deus, mas os nossos sentimentos mais profundos.

Em Cristo,

Felipe Prestes